“...descobri que ...precisava travar uma batalha com um determinado fantasma. E o fantasma era uma mulher, e quando cheguei a conhece-la melhor, passei a chamá-la pelo nome da heroína de um famoso poema, O anjo da casa...Ela era intensamente simpática. Maravilhosamente encantadora. Totalmente abnegada. Ela se distinguia nas difíceis tarefas da vida em família. Se havia galinha, ela ficava com o pé, se havia uma corrente de ar, sentava-se bem ali. Em suma, sua constituição era tal, que ela nunca tinha um pensamento ou desejo próprio, preferindo antes apoiar os pensamentos e desejos dos outros. Acima de tudo, ela era, é desnecessário dizer, pura... E quando me punha escrever, deparava-me com ela logo nas minhas primeiras palavras. A sombra de suas asas espalhava-se sobre a minha página. Eu ouvia o farfalhar de sua saia no quarto...Ela se aproximava furtivamente pelas minhas costas e sussurrava....Seja simpática, seja delicada, faça elogios, engane, lance mão de todas as artes e ardis do seu sexo. Nunca permita que alguém pense que você tem um pensamento próprio. Sobretudo seja pura. E agia como se estivesse guiando a minha caneta. Relato agora a única ação que me levou a ter algum apreço por mim mesma...Voltei-me para ela e a agarrei pela garganta. Apertei com toda minha força, até mata-la. Minha defesa, caso fosse levada a um tribunal, seria a de que agi em defesa própria. Se eu não a matasse ela me mataria."
Virginia Woolf, Professions for Women.
Rsrsrs
ResponderExcluirGi, que descrição maravilhosa!
Beijos,
Jô
Um espetáculo de sensibilidade!
ResponderExcluirParabéns Gi!