“eu me perdi numa floresta e quando finalmente cheguei no vilarejo mais próximo que pude encontrar, já era meia-noite. Todos dormiam profundamente. Perambulei por toda a cidade para ver se podia encontrar alguém acordado que me desse abrigo para passar a noite, até que finalmente encontrei um homem. Perguntei a ele, ‘Parece que eu e você somos os únicos que estamos acordados nesta cidade. Você pode me dar abrigo para esta noite?’
“O homem disse. ‘Posso ver por seus trajes que você é um monge Sufi...’”
A palavra Sufi vem de suf; que significa lã, túnica de lã. Os sufis têm usado túnicas de lã há séculos; portanto foram chamados Sufis por causa das suas vestimentas. O homem disse, “Posso ver que você é um Sufi e me sinto um pouco desconcertado em levá-lo para minha casa. Gostaria de lhe dar abrigo, mas antes preciso lhe dizer quem eu sou. Sou um ladrão - você gostaria de ser hóspede de um ladrão?”
Por um momento, Junnaid hesitou. O ladrão disse, “Olhe, foi melhor que eu tenha dito a verdade. Você me parece hesitante. O ladrão está disposto a lhe dar abrigo, mas o místico parece hesitar de entrar na casa de um ladrão, como se o místico fosse mais fraco que o ladrão. Na verdade, eu deveria estar com medo de você – você pode me transformar, você pode mudar toda minha vida! Convidar você significa perigo, mas não estou assustado. Você é bem vindo. Venha para minha casa. Coma, beba, durma, e fique quanto tempo quiser, pois vivo sozinho e o que ganho é suficiente. Eu posso sustentar duas pessoas. E seria bom conversar com você sobre grandes coisas. Mas você parece hesitante.”
E Junnaid deu-se conta de que isso era verdade. Ele pediu para ser perdoado. Tocou os pés do ladrão e disse, “Sim, meu enraizamento no meu próprio ser ainda é muito fraco. Você realmente é um homem forte e eu gostaria de ficar na sua casa. E gostaria de ficar por algum tempo, não só por essa noite. Eu também quero aprender a ser mais forte.”
O ladrão disse, “Então venha!” Ele alimentou o Sufi, deu-lhe algo para beber, ajudou-o a preparar-se para dormir e depois disse, “Agora tenho que ir. Tenho que cuidar de meu próprio negócio. Voltarei de manhã cedo.”
De manhã cedo o ladrão retornou. Junnaid perguntou, “Você teve sucesso?”
O ladrão disse, “Não, hoje não, mas haverá outros dias.”
E isso aconteceu continuamente, por trinta dias: toda noite o ladrão saía, e toda manhã voltava de mãos vazias. Mas ele nunca estava triste, nunca ficava frustrado – não havia sinal de fracasso em seu rosto, ele estava sempre feliz – e ele dizia: “Não importa. Eu fiz o melhor que pude. Não pude achar nada de valor hoje, mas amanhã tentarei.de novo E, se Deus quiser, pode acontecer amanhã se não aconteceu hoje.”
Após um mês, Junnaid foi embora, e por anos ele tentou realizar o ato supremo, porém sempre fracassava. Mas toda vez que ele decidia abandonar todo o projeto lembrava-se do ladrão, sua face sorridente e dizendo “Se Deus quiser, aquilo que não aconteceu hoje irá acontecer amanhã.”
Junnaid disse ao discípulo, eu me lembro do ladrão como um dos meus maiores mestres. Não fosse ele eu não seria o que sou.
Bom dia Gi. É estranho como o conhecimento nasce nos lugares mais estranhos...
ResponderExcluirNão é mesmo, querido?
ResponderExcluire eu pude constatar a poucos dias o ensinamento do ladrão a Junnaid..., eu fracassei em um intento por anos e anos...e achei que jamais conseguiria...Mas o que não aconteceu ontem, aconteceu hoje...E realmente, as vezes ensinamento preciosos podem ser encontrados em lugares pouco óbvios..