- …. Há um meio especial de se evitar o sofrimento?
- Sim, há um Meio.
- É uma fórmula, um processo, ou o quê?
- É um modo de se agarrar as coisas. Por exemplo, quando eu estava aprendendo a respeito da erva-do-diabo,
era por demais ansioso. Agarrava as coisas assim como as crianças agarram bala.
A erva-do-diabo é apenas um entre um milhão de caminhos.
Tudo é um entre um milhão de caminhos. Portanto, você deve sempre manter em mente que um caminho
não é mais do que um caminho; se achar que não deve segui-lo, não deve permanecer nele,
sob nenhuma circunstância. Para ter uma clareza dessas, é preciso levar uma vida disciplinada.
Só então você saberá que qualquer caminho não passa de um caminho,
e não há afronta, para si nem para os outros, em largá-lo se é isso o que seu coração lhe manda fazer.
Mas sua decisão de continuar no caminho ou largá-lo deve ser isenta de medo e de ambição. Eu lhe aviso.
Olhe bem para cada caminho, e com propósito. Experimente-o tantas vezes quanto achar necessário. Depois, pergunte-se, e só a si, uma coisa. Essa pergunta é uma que só os muito velhos fazem. Meu benfeitor certa vez me contou a respeito,
quando eu era jovem, e meu sangue era forte demais para poder entendê-la.
Agora eu a entendo. Dir-lhe-ei qual é: esse caminho tem coração?
Todos os caminhos são os mesmos: não conduzem a lugar algum. São caminhos que atravessam o
mato, ou que entram no mato. Em minha vida posso dizer que já passei por caminhos
compridos, mas não estou em lugar algum. A pergunta de meu benfeitor agora tem um
significado. Esse caminho tem um coração? Se tiver, o caminho é bom; se não tiver,
não presta. Ambos os caminhos não conduzem a parte alguma; mas um tem coração e o outro não.
Um torna a viagem alegre; enquanto você o seguir, será um com ele. O outro o fará maldizer sua vida.
Um o torna forte; o outro o enfraquece.”
era por demais ansioso. Agarrava as coisas assim como as crianças agarram bala.
A erva-do-diabo é apenas um entre um milhão de caminhos.
Tudo é um entre um milhão de caminhos. Portanto, você deve sempre manter em mente que um caminho
não é mais do que um caminho; se achar que não deve segui-lo, não deve permanecer nele,
sob nenhuma circunstância. Para ter uma clareza dessas, é preciso levar uma vida disciplinada.
Só então você saberá que qualquer caminho não passa de um caminho,
e não há afronta, para si nem para os outros, em largá-lo se é isso o que seu coração lhe manda fazer.
Mas sua decisão de continuar no caminho ou largá-lo deve ser isenta de medo e de ambição. Eu lhe aviso.
Olhe bem para cada caminho, e com propósito. Experimente-o tantas vezes quanto achar necessário. Depois, pergunte-se, e só a si, uma coisa. Essa pergunta é uma que só os muito velhos fazem. Meu benfeitor certa vez me contou a respeito,
quando eu era jovem, e meu sangue era forte demais para poder entendê-la.
Agora eu a entendo. Dir-lhe-ei qual é: esse caminho tem coração?
Todos os caminhos são os mesmos: não conduzem a lugar algum. São caminhos que atravessam o
mato, ou que entram no mato. Em minha vida posso dizer que já passei por caminhos
compridos, mas não estou em lugar algum. A pergunta de meu benfeitor agora tem um
significado. Esse caminho tem um coração? Se tiver, o caminho é bom; se não tiver,
não presta. Ambos os caminhos não conduzem a parte alguma; mas um tem coração e o outro não.
Um torna a viagem alegre; enquanto você o seguir, será um com ele. O outro o fará maldizer sua vida.
Um o torna forte; o outro o enfraquece.”
Trecho do livro “A Erva do Diabo”,
de
Carlos Castañeda.
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