Era uma vez...


"Em um tempo muito, muito distante, quando a Deusa caminhava sobre a Terra e todas as coisas eram sagradas...
Nas noites encantadas,surgia em meio a floresta misteriosa
um velhinho exausto e tremulo e a Deusa em sua face Anciã,
o tomava em seus braços, se balançando em sua cadeira o embalava, cantando...cantando...
E pela manhã ele saltava de seus braços, agora já uma criança radiante e se alçava aos céus para raiar o dia.
Ele é a Criança Solar, Ela é a Mãe de todas as coisas..."

26 de dezembro de 2011

Água Viva
Cabem em mim, bem fundo com suas águas muitas lambendo 
a quentura banhando lembranças amamentam versos 
arrebentam verdes arrebatam gentes afundando cores 
dulcíssimas águas que habitam em mim são guerreiras águas 
navegam em meus poros onde quer que eu vá inundando 
a mente inundando as margens inundando a mata banhando 
quenturas lavando lembranças poderosas águas as de 
minha infância de selva, de mato de banhos gelados nos 
igarapés caminhos- canoas emergindo líquidos nessa 
maré cheia de encantarias arrebatadoras águas grandes 
águas grandes águas grandes", 
(Aline de Mello Brandão)

Contam os Tupis-Guaranis:

 
" Nosso pai Ñmandu, o Primeiro, brota de seu próprio brotar. 
Embora o sol não exista, ele se ilumina a si mesmo pelo resplendor 
de seu próprio coração, porque a sabedoria contida dentro 
de sua divindade lhe serve de sol e de luz".
“Se eu fosse um padre, eu, nos meus sermões, (..) 
Rezaria versos, os mais belos, desses que desde a infância me embalaram 
e quem me dera que alguns fossem meus! Porque a poesia purifica a alma ...
e um belo poema — ainda que de Deus se aparte — 
um belo poema sempre leva a Deus!”
(Mário Quintana )
Seja sempre aberto e franco em todas as suas relações; 
jamais brinque de esconde-esconde. 
Ser direto e franco é uma grande virtude. 
O coração de um homem é puro na proporção em que 
ele é franco e espontâneo em seu comportamento." 
 Swami Akhandananda

21 de dezembro de 2011


Forma
Formatar
Formação
Formal
Formatura
Conforma
Deforma
Informe
Reformatório
Reforma
Informa
Uniforme
Informação
Transformação

LIBERTAÇÃO
( Gi / Rogério )

20 de dezembro de 2011


Biscatear é amar o corpo porque se ama o que ele aponta: o passar dos dias. 
É não negar o tempo e suas inscrições. É decifrar as marcas. 
É usá-las como guia de viagem. 
Biscatear é tocar o próprio corpo com a intimidade que se reserva aos mistérios. 
Biscatear é desvendar o corpo e reconhecer: alegria. 
É oferecê-lo sabendo que se recebe. Biscatear é desejar e sentir o corpo em antecipações. 
É ali, no corpo e para além dele, o prazer. Biscatear é saber espelhos, 
mas preferir encontrar-se no olhar do outro. 
Biscatear é reconhecer que o corpo é quem somos e não demandar 
dele menos ou mais do que o que vivemos.


( biscatesocialclub.wordpress.com )


19 de dezembro de 2011


Habitas-me

Como a uma casa
De um só quarto
No alto de uma falésia;
Como a ventania
Irrompe na floresta, cavando clareiras
Ou devagar vai esculpindo luas
Nas areias.

L.T.

16 de dezembro de 2011

‎"Sempre não tive a idéia fixa de que a velhice me traria muito?
 Em meus jovens anos escrevi em algum lugar:
 primeiro nós vivemos nossa juventude, em seguida nossa juventude vive em nós. 
Não sei bem, ainda hoje, o que eu queria dizer com isso outrora. 
Mas eu tinha realmente medo de não atingir a idade de viver esta experiência; 
eu o sabia profundamente, uma longa vida, com todas as suas dores, vale ser vivida. 
Claro, o valor da vida pode nos ficar escondido pelos desgastes sofridos pela nossa carne, nosso espírito (...) 
do mesmo modo que a juventude mais empreendedora pode se ver entravada em sua felicidade e em seu sucesso, 
por um fatal concurso de circunstâncias; mas, por além das perdas, 
a velhice adquire muito mais que a famosa aptidão à serenidade e à lucidez: 
ela permite que se chegue a uma plenitude mais acabada."




LOU A. SALOMÉ

15 de dezembro de 2011

‎"Enquanto todo mundo
Espera a cura do mal"

...algumas pessoas simplesmente agradecem a oportunidade de viver...e ainda encontram força para expor sua imperecível Beleza...

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En una sociedad en la que cada vez impera la “dictadura de la belleza” y la “tiranía de la perfección estética”, David Jay y sus musas nos enseñan que lo hermoso y lo bello, va más allá de lo anatómico y físico. Se trata de algo tan sutil e indirecto que puede estar oculto en una sonrisa, una carcajada, una lágrima, una mirada o en la historia de valor que se esconde detrás de una cicatriz.
Porque como bien dijo el filósofo y escritor indio Rabindranath Tagore, “Aunque le arranques los pétalos, no quitarás su belleza a la flor”.

14 de dezembro de 2011


Graças à vida que me deu tanto
Me deu dois olhos que quando os abro
Distinguo perfeitamente o preto do branco
E no alto céu seu fundo estrelado
E nas multidões o homem que eu amo
Graças à vida que me deu tanto
Me deu o ouvido que em todo seu comprimento
Grava noite e dia grilos e canários
Martírios, turbinas, latidos, aguaceiros
E a voz tão terna de meu bem amado
Graças à vida que me deu tanto
Me deu o som e o abecedário
Com ele, as palavras que penso e declaro
Mãe, amigo, irmão
E luz iluminando a rota da alma do que estou amando
Graças à vida que me deu tanto
Me deu a marcha de meus pés cansados
Com eles andei cidades e charcos
Praias e desertos, montanhas e planícies
E a casa sua, sua rua e seu pátio
Graças à vida que me deu tanto
Me deu o coração que agita seu marco
Quando olho o fruto do cérebro humano
Quando olho o bom tão longe do mal
Quando olho o fundo de seus olhos claros
Graças à vida que me deu tanto
Me deu o riso e me deu o pranto
Assim eu distinguo fortuna de quebranto
Os dois materiais que formam meu canto
E o canto de vocês que é o mesmo canto
E o canto de todos que é meu próprio canto
Graças à vida, graças à vida

12 de dezembro de 2011

VIAGEM INTERIOR

Com o olhar da sua imaginação, com toda sua sensibilidade,
lembre-se dum barco no mar, imagine-se num barco 
no meio do oceano, deliciando-se em respirar a brisa
carregada de aromas salinos,  admirando a dança da luz 
nas ondas, sentindo a brisa acariciar seus cabelos,
seu rosto, seus braços, suas pernas. Aqui está o Templo do Mar,
esse Templo da imensidão da água, esse Templo sem forma, sem limites,
o Templo da água sensível,a água que sente 
o mínimo sopro de vento, sente a carícia do Sol,
devaneia com a Lua,  recebe a luz das estrelas.
Aqui está o poderoso Templo   das Tempestades,
o Templo das emoções violentas, como o Templo onde se delicia
a luz do dia  até explodir na tranqüila beleza 
do pôr do Sol. Para entrar  nas profundezas do Templo
você chama um grande amigo, seu animal de poder,
o golfinho. Você veste um corpo de golfinho
para entrar no mar  dos sentimentos,
no mar das emoções, brincar no mar,
alegrar-se, divertir-se com inteligência
no mar da sua alma. Diverte-se em chamar 
uma tempestade, e mergulha nas profundezas.
Nas profundezas da sua alma tudo é tranqüilo, sempre.
Nas profundezas da sua alma tudo é tranqüilo, sempre.
Sempre. Com essa tranqüilidade profunda
você sobe deliciando-se em nadar
no mar tranqüilo da manhã quando a luz do dia desperta
nas ondas leves, nadar no mar sereno da manhã,
no mar do dia e do entardecer.

lenda maori



Ilustração: Kipper
No início só havia Kore, a energia, vagando na escuridão do espaço infinito. Então, veio a luz e surgiram Ranginui, o Pai Céu, e Papatuanuku, a Mãe Terra. Rangi e Papa tiveram muitos filhos: Tangaroa, deus das águas; Tane, deus das florestas; Tawhirmatea, deus dos ventos; Tumatauenga, deus da guerra, que deu origem aos seres humanos; e Uru, que não era deus de nada. Rangi e Papa viviam num perpétuo abraço de amantes. Acontece que esse enlace apaixonado não deixava a luz penetrar entre seus corpos, onde ficavam os filhos. Obrigados a viver apertados e sempre no escuro, os jovens resolveram dar um basta na situação.  - Vamos matar Rangi e Papa e ficar livres deles! - disse Tumatauenga. 
- Não! - disse Tane. - Vamos apenas separálos, empurrando um para cima e deixando o outro embaixo. Assim sobrará espaço para nós e a luz vai poder entrar. 
Todos acharam a idéia excelente. 
Tane, que era o mais forte de todos, firmou bem os pés em Papa, encaixou os ombros no corpo de Rangi e o empurrou para cima com toda a força. 
Os pais se separaram, mas - oh, decepção! - só um pouco de luz chegou ao mundo dos filhos. Além disso, Rangi e Papa estavam nus e, longe um do outro, sentiam muito frio. 
Comovido com a situação, Tane abrigou o pai com o negro manto da noite. 
Para a mãe fez um vestido com as mais verdes e tenras folhas e as flores mais coloridas. Em torno dela fez ondular as águas azuis dos mares e rios de Tangaroa. Os ventos de Tawhirmatea sopravam suavemente seus cabelos. Os filhos de Tumatauenga já começavam a povoar o mundo recém-criado.
Olhando lá de cima os lindos trajes da mulher e sua participação no novo mundo, Ranginui ficou doente de inveja. Sua dor cobriu o mundo com uma névoa úmida e cinzenta. 
Refugiado em uma dobra do manto paterno, Uru chorava e chorava por não ter sido útil em nada aos pais e aos irmãos. Para que ninguém percebesse suas lágrimas, escondia-as em cestas e mais cestas. Mas Tane tudo percebera: 
  -Uru, meu irmão, preciso de sua ajuda! 
  - Nada tenho para dar, você bem sabe! 
  - Ora, Uru, você tem tantas cestas... 
Surpreso e com medo de ser descoberto em sua fraqueza, Uru abaixou a cabeça: - Não tem nada dentro delas, irmão. 
Tane avançou e destampou uma das cestas. Dela voaram luzes faiscantes e risonhas para todos os lados. As lágrimas de Uru haviam se transformado em crianças-luz (para nós, estrelas)! 
- Uru, será que você podia me ceder duas de suas cestas? Seus filhos poderiam enfeitar e iluminar a morada de nosso pai... Uru concordou. As duas cestas foram passadas para Te Waka o Tamareriti, uma canoa muito especial. Tane conduziu a canoa até o céu, espalhando sobre o manto de Rangi milhares de estrelinhas que riam e piscavam umas para as outras o tempo todo. 
Quando Tane ia pegar a segunda cesta, esta tombou e se abriu, deixando as estrelas se espalharem numa grande faixa chamada Ikaroa, que cruzou o céu de lado a lado (para nós, a Via Láctea). Tane deixou Ikaroa e Waka o Tamareriti (que é a "cauda" da nossa constelação do Escorpião) no espaço celeste, onde se tornaram os guardiões das estrelas.

Lenda maori recontada por Maria de la Luz, ilustrada por Kipper

10 de dezembro de 2011

9 de dezembro de 2011




"Sagrada Força Feminina te saúdo e sinto tua presença se manifestando em meu Ser

Através de meus pensamentos, palavras e ações

Deixo que a Divina Presença da Mãe Cósmica me oriente com sua infinita sabedoria
Ela está chegando, sinto sua Dança!
Ela está falando, ouço sua canção de Amor!
Ela está dentro e fora nas coisas mais simples e por isso perfeitas
E seu templo sagrado é meu corpo de Mulher
Seu pensamento agora é meu pensamento
E só penso em Amor,
Só sinto Amor
E só vejo Amor
O mundo que percebo é fruto da minha percepção de Amor
E assim crio a minha realidade
Abençôo meu dia e honro minha Deusa de mil nomes
E assim crio a magia que me ilumina e protege
Saúdo a noite e honro minha Mãe Lua, suas sagradas fases comandam meu corpo de mulher
E assim me preservo saudável e com meus ciclos femininos em perfeita harmonia.
Saúdo a Incognoscível, e assim honro e preservo meu poder oculto.
Saúdo as Forças da Natureza para que a Mãe Terra me proteja
E me oriente no Norte, no Sul, no Leste e no Oeste.
Honro a terra onde piso, a água que bebo e o meu alimento,
Pois sei que tudo que fizer a esta Terra voltará para mim e para meus descendentes.
E assim me conecto ao coração de Gaia e a sua proteção maternal.
A Deusa cuida do meu corpo e da minha alma
E assim estou em perfeita sincronia com o Universo
Do meu coração flui seus ensinamentos, suas palavras de sabedoria e sua força infinita
E assim realizo minha divindade humana
Em minha alma o Sagrado Feminino e o Sagrado Masculino se uniram em Amor e Êxtase
E assim descobri o equilíbrio onde o ser humano deve estar
Todo o Amor que nutre minha existência vem da Fonte Divina
Por isso não preciso que nenhum ser humano o faça por mim
A Deusa abençoa meu corpo com seus sagrados encantos
E assim a beleza da minha Alma se reflete em meu corpo feminino
Da minha mente fluem os pensamentos e a criatividade
que fazem minha existência ser especial e singular
E assim realizo minha vocação maior
Preservo meu coração limpo e leve como uma pena
E assim me permito ser livre e feliz para sempre
E que Assim Seja, porque Assim É"
Saúdo a Divindade em tudo que vive
E rezo para que todas as mulheres conheçam sua Deusa Interior
E assim curem e libertem suas vidas para a alegria, a Arte, o prazer, a saúde e o Amor."

- Carla Lampert

(...) assim também os homens terão que aguentar algumas feministas de quiserem
 se relacionar com uma mulher de verdade..., capaz de amar com entrega e autenticidade,
porque se tem..., pertence a si própria em sua originalidade .
( gi - parafraseando desavergonhadamente Saint Exupery)
Ficheiro:Lady Godiva by John Collier.jpg
Mesmo na noite mais fria
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste,
há sempre alguém que diz não.

Manoel Alegre
( Pintura : Lady Godiva de John Collier)


8 de dezembro de 2011


“here is what i have...
poems
big thighs
lil tits
&
so much love”

Ntozake Shange

30 de novembro de 2011

Tu já topaste as janelas?
Ora, vamos falar sobre janelas.
Eu já vi janelas muito malucas que me faziam caretas...
e algumas delas tinham reposteiros corridos e piscavam-me o olho.


On the Road - Jack Kerouac

29 de novembro de 2011



"O homem matrïarcal é aquele que reconhece o seu poder feminino e sua integração com o mesmo, ele é fálico, como o poder feminino também pode ser.Ser um homem matriarcal, é reconhecer a divindade da Deusa como parte sua.Feminino não é só a noção de mulher como vulva e seios,o feminino é algo profundo e intuitivo, é a primeira noção do reconhecimento e começo da vida.
A vida se inicia e se faz dentro do feminino, mas da maneira como a sociedade patriarcal trouxe uma noção separatista das coisas,afetou a noção do ser masculino,como filho daquele aspecto feminino da criação.
Assim como a mulher sofreu pelas mãos do patriarcado, a maioria dos homens foram podados em seus sentimentos e sensações. Já que reconhecer o seu aspecto feminino é demonstrar tudo aquilo que é fraco e admitir a toda uma sociedade falocrática um poder diferente do "pregado" pela maioria.Homens matriarcais existem... mostram-se em suas atitudes inconscientes,muitos foram corrompidos assim como as mulheres também foram.
Enfim o ''homem pode ver sua própria imagem refletida no corpo da mulher e a mulher pode ver nele a sua própria imagem refletida nele''

 por Adham Zilys 

"Uma inquietação enorme fazia-me estremecer os gestos mínimos. 

Tive receio de endoidecer, não de loucura, mas de ali mesmo. 

O meu corpo era um grito latente.

 O meu coração batia como se falasse." 

 F. Pessoa.

( Foto de Bence Máte - Costa Rica) 



28 de novembro de 2011




"EM CADA CORAÇÃO HÁ UMA JANELA PARA OUTROS CORAÇÕES.
ELES NÃO ESTÃO SEPARADOS,COMO DOIS CORPOS;
MAS,ASSIM COMO DUAS LÂMPADAS QUE NÃO ESTÃO JUNTAS,
SUA LUZ SE UNE NUM SÓ FEIXE."



(Jalaluddin Rumi)

" a gente recalca o sexo, se fala muito nisso, claro, o sexo é um mecanismo de poder.
Descobriram então que se a gente libera o sexo talvez a gente libere os poderes das pessoas.
Mas, até hoje, não se discutiu sobre a liberação do instinto para o conhecimento.
Não se fala sobre isso. E muitos de nós vivem infelizes não é por falta de sexo,
é por falta de inteligência."


Márcia Tiburi

As Mil e Uma Noites...

Num distante País vivia um homem bonito e honrado, esse rei, de nome Shariar, já havia sido muito feliz, sem saber que sua esposa guardava um terrível segredo: apesar de fingir que o amava, ela na verdade estava apaixonada pelo servo mais indigno da corte. Um dia Shariar casualmente a surpreendeu num canto escuro do palácio nos braços do amante. Transtornado pela dor e pelo espanto, o soberano soltou um grito medonho e sacou da espada para cortar a cabeça da mulher infiel e do servo desleal. Pouco tempo mais tarde um cavalo parou na frente do palácio, e o irmão do rei, Shazaman, entrou para visita-lo. “Mas é inacreditável!” Shazaman exclamou. “ Pois pouco antes de partir a mesma coisa aconteceu comigo! Encontrei minha esposa beijando um de meus servos e, como você, também puxei a espada e cortei a cabeça dos pérfidos.” Dias depois Shazaman voltou para seu reino, e Shariar ficou postado junto à fonte, contemplando as águas límpidas com um olhar pensativo. Por fim fez um juramento terrível: “Amanhã à noite vou me casar de novo, mas não permitirei que minha mulher desfrute os privilégios de rainha. Pois, quando o dia clarear, mandarei executa-la. Na noite seguinte tomarei outra esposa e ao amanhecer ordenarei que a eliminem. E assim hei de fazer sucessivamente até que não sobre neste reino uma única representante do gênero feminino”. Dito e feito. Toda a noite ele escolhia uma nova esposa e toda manhã mandava a infeliz para a morte. Seus súditos viviam apavorados, temendo perder filhas, irmãs, netas. Muitos fugiram para outros reinos, e por fim restou nos domínios de Shariar uma só noiva disponível. Tratava-se de Sherazade, jovem de alta estirpe, filha do primeiro-ministro do soberano. O pobre homem se encheu de pavor e tristeza ao saber que ela estava condenada à morte. Sherazade, no entanto, não se desesperou. Era mais sábia e esperta que todas as suas predecessoras, e junto com a irmã caçula elaborou um plano meticuloso. Terminada a breve cerimônia nupcial, o rei conduziu a esposa a seus aposentos, mas, antes de trancar a porta, ouviu uma ruidosa choradeira. “Oh, Majestade, deve ser minha irmãzinha, Duniazade”, explicou a noiva. “Ela está chorando porque quer que eu lhe conte uma história, como faço todas as noites. Já que amanhã estarei morta, peço-lhe, por favor, que a deixe entrar para que eu a entretenha pela última vez!” Sem esperar resposta, a jovem abriu a porta, levou a irmã para dentro, instalou-a no tapete e começou: “Era uma vez um mágico muito malvado...”. Furioso, Shariar se esforçou ao máximo para impedir a narrativa; resmungou, bufou, tossiu, porém as duas irmãs o ignoraram. Vendo que de nada adiantava sua estratégia, ele ficou quieto e se pôs a ouvir o relato de Sherazade, meio distraído no início, profundamente interessado após alguns instantes. A pequena Duniazade adormeceu, embalada pela voz suave da rainha. O soberano permaneceu atento, visualizando mentalmente as cenas de aventura e romance descritas pela esposa.  De repente, no momento mais empolgante, Sherazade silenciou. “Continue!”, Shariar ordenou. “Mas o dia está amanhecendo, Majestade! Já ouço o carrasco afiar a espada!” “Ele que espere”, declarou o rei. Shariar se deitou e logo dormiu profundamente. Despertou ao anoitecer e ordenou à esposa que concluísse o relato, mas não se deu por satisfeito. “Conte-me outra!”, exclamou. Sherazade sorriu e recomeçou: “Era uma vez...”. Novamente o sol adiou a execução. Quando Sherazade terminou, ela a mandou contar mais uma história. E assim a jovem rainha: conseguia postergar a própria morte. De dia o rei dormia tranqüilamente, à noite, acordava sempre ansioso para ouvir o final da narrativa interrompida e acompanhar as peripécias de mais um herói ou heroína. Já não conseguia conceber a vida sem os contos de Sherazade, sem as palavras que lhe jorravam da boca como a música mais encantadora do mundo. Dessa forma se passaram dias, semanas, meses, anos. E coisas estranhas aconteceram. Sherazade engordou e de repente recuperou seu corpo esguio. Por duas vezes ela desapareceu durante várias noites e retornou sem dar explicação, e o rei tampouco lhe perguntou nada. Certa manhã ela terminou uma história ao surgir do sol e falou: “Agora não tenho mais nada para lhe contar. Você percebeu que estamos casados há exatamente mil e uma noites?” Um ruído lhe chamou a atenção e, após uma breve pausa, ela prosseguiu; “Estão batendo na porta! Deve ser o carrasco. Finalmente você pode me mandar para a morte!”. Quem entrou nos aposentos reais foi, porém, Duniazade, que ao longo daqueles anos se transformara numa linda jovem. Trazia dois gêmeos nos braços, e um bebê a acompanhava, engatinhando. “Meu amado esposo, antes de ordenar minha execução, você precisa conhecer meus filhos”, disse Sherazade. “Aliás, nossos filhos. Pois desde que nos casamos eu lhe dei três varões, mas você estava tão encantado com as minhas histórias que nem percebeu nada...” Só então Shariar constatou que sua amargura desaparecera. Olhando para as crianças, sentiu o amor lhe inundar o coração como um raio de luz. Contemplando a esposa, descobriu que jamais poderia matá-la, pois não conseguiria viver sem ela. Assim, escreveu a seu irmão e lhe propondo que se casasse com Duniazade. O casamento se realizou numa dupla cerimônia, pois Shariar esposou Sherazade pela segunda vez, e os dois reis reinaram felizes até o fim de seus dias

24 de novembro de 2011

[Miró,+Juan+-+Circus+Horse,+1927.jpg]
Em arte quando falo de "beleza", não falo de boniteza..., 
mas de forma, arte é forma...
A beleza revela o "ser" das coisas, este ser é inapreensível. 
Eu não dou conta de pegar o ser de uma rosa, de um rio, de uma paisagem ou de um rosto..., 
mas quando a arte faz isso ela apreende a coisa mais alta 
que está atrás das coisas, ela nos revela, 
nos remete a uma beleza suprema se nos tivermos 
despidos do orgulho da razão e da lógica...
Adélia Prado - Miró


calma



Calma (…)

Tudo está em calma
Deixe que o beijo dure
Deixe que o tempo cure
Deixe que a alma
Tenha a mesma idade
Que a idade do céu.”

Paulinho Moska

23 de novembro de 2011

"Ele visitava semanalmente o túmulo do pai e 
levava flores novas. Ficava triste vendo as flores 
murchas e secas da semana anterior, que ninguém regara. 
Aí teve a idéia de substituir as flores por um catavento. 
Toda vez que o vento batia o catavento ressuscitava..."

Rubem Alves

"O homem que vê mal vê sempre menos do que aquilo que há para ver; o homem que ouve mal ouve sempre algo mais do que aquilo que há para ouvir."Nietzsche 

'Máximas e Reflexões'


Cada indivíduo vê o mundo - e o que este tem de acabado, de regular, de complexo e de perfeito - como se se tratasse apenas de um elemento da Natureza a partir do qual tivesse que constituir um outro mundo, particular, adaptado às suas necessidades. Os homens mais capazes tomam-no sem hesitações e procuram na medida do possível comportar-se de acordo com ele. Há outros que não se conseguem decidir e que ficam parados a olhar para ele. E há ainda os que chegam ao ponto de duvidar da existência do mundo. 

Se alguém se sentisse tocado por esta verdade fundamental, nunca mais entraria em disputas e passaria a considerar, quer as representações que os outros possam fazer das coisas, quer a sua, como meros fenómenos. Porque de facto verificamos quase todos os dias que aquilo que um indivíduo consegue pensar com toda a facilidade pode ser impossível de pensar para um outro. E não apenas em relação a questões que tivessem uma qualquer influência no bem estar ou no sofrimento das pessoas, mas também a propósito de assuntos que nos são totalmente indiferentes. 


Goethe - 'Máximas e Reflexões'

SOBRE DIREITOS AUTORAIS

As fotos, figuras, textos, frases visualizadas neste blog, são de autorias diversas. Em alguns casos não foram atribuidos os créditos devidos por ignorância a respeito de sua procedência. Se alguém tiver
alguma objeção ou observação por favor contatar-me.
Namastê























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